Muitas questões têm surgido sobre o impacto do Covid-19 nas nossas vidas, tanto profissionais como pessoais. Devemos estar cientes que um regresso à rotina diária tal como a conhecíamos antes, não irá acontecer. Mesmo após o levantamento das restrições, a experiência que vivemos é expectável que venha a ter impacto no nosso quotidiano. Esta alterações não têm obrigatoriamente que ser encaradas como negativas, simplesmente são diferentes, em que as nossas prioridades sobre as nossas necessidades mudaram.
Acreditamos que a era digital, deu um grande passo nos nossos hábitos, ganhando outra dimensão e importância na forma como nos relacionamos, trabalhamos, aprendemos, consumimos e marcamos a nossa presença perante o mundo. As empresas foram obrigadas a repensar toda a sua estrutura, prioridades e orgânica de forma a garantir a sua continuidade, apostando no Marketing Digital, disponibilizando a base de dados aos seus empregados por via online, de forma a continuarem a produzir em regime teletrabalho, reunindo com as respetivas equipas e clientes por plataformas online tipo Zoom, Teams, Whatsapp, etc.
O ensino, que mudou toda a forma de se aproximar dos seus alunos, através da Tele escola, aulas em videoconferência e fichas online. Os webinars ganharam uma dimensão nunca vista antes, em que várias formações e conferências têm sido administradas em plataformas online, e cada vez mais, com um maior profissionalismo na abordagem e na otimização das ferramentas.
Esta pandemia obrigou a todo o agregado familiar conviver, trabalhar, aprender e a ter os seus momentos de lazer, em períodos consecutivos de 24 horas no mesmo espaço que chamavam de “casa”. Os critérios de seleção das habitações eram menos exigentes, porque eram definidos em função do modo de vida da altura, que agora se revelam inadequados pelas exigências do quotidiano atual. Os conceitos para a seleção da habitação ideal começam a ser questionados, desde a forma como os espaços se articulam, os tipos de espaços a implementar, materiais e sistemas construtivos sustentáveis, sistemas ativos e passivos termicamente eficazes, entre outros.
Segundo a plataforma online líder em design e renovação “Houzz” existe uma procura acrescida por espaços mais versáteis e multifuncionais, habilitados para o teletrabalho, através de salas específicas e reconfiguráveis dependendo da hora do dia, assim como “escritórios em casa”, “escrevaninha” e “escritório”, aumentando respetivamente 99%, 97% e 69%, relativamente ao mesmo período o ano passado
Gonzalo Pardo, diretor da Gon Architects na Houzz, acrescenta ainda na sua análise que também palavras como “pátio”, “externo” ou “jardim no terraço” tiveram aumentos de 70% e 90% do número de pesquisas em comparação com 2019, o que reflete um desejo de uma maior relação entre o interior e o exterior.
Acreditamos que a habitação deve ser fluída e a comunicação entre os espaços deve ser eficaz, principalmente nos espaços de carácter social como a relação entre as áreas interiores com as exteriores. A necessidade dos compartimentos serem o suficientemente versáteis e multifuncionais de forma a articular as várias utilizações, desde o lazer, trabalho e outras atividades.
Devido ao aumento do número de horas que a habitação é utilizada, a eficiência energética não é um mero diploma legal a cumprir, onde o retorno do investimento deverá ser avaliado a longo prazo.
A revisão de alguns sistemas antigos que permitiam os nossos antepassados serem mais autónomos aliados as tecnologias de hoje, poderão permitir uma maior sustentabilidade.
A implementação de uma infraestrutura tecnológicas que permita a flexibilização para as várias atividades que hoje são exigidas aos espaços, tanto ao nível do lazer, da aprendizagem, da convivência como do trabalho.
Em suma, tendo em conta estas novas necessidades de vivência do espaço interior que surgiram durante a pandemia, é essencial, agora mais do que nunca, projetarmos habitações que nos proporcionem um sentimento de bem-estar e de desfrute, levando em consideração a adaptação a novas formas de trabalho e à possibilidade de passarmos mais tempo nas nossas casas.
Orlando Santo – CEO ArquiSmart